Isto porque li a intervenção do Presidente da República (Cavaco Silva) na Sessão Solene Comemorativa do 100º Aniversário do Instituto Superior de Economia e Gestão, no dia 23 de Maio de 2011 em Lisboa.
Está em http://www.presidencia.pt/?idc=22&idi=53921Dessa intervenção este excerto
"Em tempo de balanço, que as comemorações sempre implicam, podemos e devemos perguntar-nos, com a redobrada oportunidade do esteio do passado, qual o papel que devem ter os economistas na sociedade portuguesa de hoje?
Esta interrogação recordou-me uma lição de sapiência que proferi em Fevereiro de 1982, precisamente sobre esse tema, e que se encontra publicada na Revista “Economia”. Antecipava-se, então, a segunda vinda do Fundo Monetário Internacional a Portugal, no contexto do acordo de ajustamento que acabou por vir a ser assinado em 1983. E, curiosamente, ao reler o que então escrevi, concluí que muitas das interrogações e das expectativas da altura não perderam a sua actualidade.
Vivia-se uma grave crise económica, marcada pelo desemprego, sobretudo entre os jovens; havia uma grande desigualdade na distribuição da riqueza; era baixa a produtividade da economia e visível a tendência para défices externos insustentáveis.
Se bem que, desde essa altura, muito se tenha evoluído a vários níveis, o facto é que a gravidade de alguns dos velhos problemas que subsistem e dos novos problemas que, entretanto, emergiram exige, mais do que nunca, uma “contribuição decisiva da parte dos economistas”.
Seguirei, pois, de perto, essa minha alocução de 1982, nas palavras que escolhi dirigir-vos nesta data do centenário. A sua actualidade mostra que o tempo tem cadências bem diferentes do que aquela que muitas vezes lhe exigimos.
Referindo-me às responsabilidades dos economistas, afirmei então que estas “surgem ainda maiores se acrescentarmos que uma correcta avaliação dos custos que aqueles problemas representam para a sociedade não pode ficar-se pela consideração de umas quantas variáveis económicas chave, como é corrente nos livros de economia, impondo-se ter presente certas incidências negativas do tipo social e político que, no Portugal de hoje, não devem ser ignoradas”.
E, prosseguindo no tema, acrescentava que “a tomada de medidas para a solução dos problemas económicos constitui a essência da política económica; no entanto, (...) a política económica é feita pelos políticos e não pelos economistas enquanto economistas”. Mas, sublinhava eu, isto não deveria significar um alívio, porque “a credibilidade da profissão seria muito atingida se invocassem uma grande isenção de responsabilidades”.
Perguntava, pois, tal como se pode perguntar hoje: “Qual o papel dos economistas na formulação da política económica? Qual a sua influência sobre as decisões?”
E entendia então, tal como hoje continuo a entender, que cabe aos economistas “convencer os políticos e outros decisores da sua utilidade”; ou seja, “que as decisões económicas baseadas nos seus conhecimentos têm mais possibilidade de acertar do que as decisões baseadas na ignorância”.
Isto, claro, admitindo, como desde logo ressalvei, que não se poderá tomar como modelo um tipo de político como aquele que Keynes descreveu e que, segundo ele, “tinha as duas orelhas tão junto ao chão que não conseguia ouvir o que lhe dizia um homem vertical”.
É que, continuava eu, “assegurar um papel para os economistas significa (...) reconhecer que são eles que trabalham e fornecem os ingredientes com que os políticos fazem a política económica”. Explicitando, de seguida, que “se inclui claramente entre a responsabilidade dos economistas o pronunciarem-se sobre o que deve ser feito”, pois as reformas económicas e sociais de que, - ontem como hoje, acrescentaria -, o País precisa “podem ser produtivas e justas, se feitas da forma correcta, mas também podem ser desastrosas e injustas, se forem erradas”, como em 1982 afirmei.
Quase 30 anos depois, vivemos tempos de grande instabilidade internacional, que abalou muitas das nossas convicções e que rompeu laços de confiança sem os quais será muito difícil reconstruir o caminho para o desenvolvimento.
Numa fase em que, também na vida nacional, a confiança se tornou o factor mais determinante para a retoma da economia, é ainda de plena actualidade a recomendação que então deixei: caso as suas propostas não sejam aceites por quem tem o dever de decidir, o economista não deve resignar-se com facilidade, mas o que “não pode aceitar é trair as regras do método científico e subverter a lógica do seu raciocínio de modo a produzir as conclusões desejadas pelos seus clientes”.
Este ponto é particularmente importante para a credibilidade quer de quem aconselha, quer de quem decide confiado nesses conselhos, uma vez que, como dizia, referindo-me aos próprios economistas, “a sua influência sobre as escolhas não reflecte exclusivamente critérios científicos”.
Retomo, por isso, parte da reflexão que o assunto me mereceu em 1982: “Embora a racionalidade seja o pressuposto básico do economista, a sua intervenção no processo de formulação da política económica não é a de um mero especialista de políticas racionais e neutras. (...) De facto, aos mais variados níveis de actividade do economista estão presentes juízos éticos, que reflectem o seu próprio sistema de preferências (...),” mas “devo acrescentar que não partilho a opinião de que isso implique a perda de racionalidade e do estatuto científico da Economia. Penso, contudo, que é necessário garantir (...) objectividade à análise teórica para que as opiniões económicas não sejam uma simples questão de escolha pessoal (...)”.
Esta percepção reconduz-nos ao papel das escolas de economia no mundo actual e à sua interacção com os decisores políticos ou, melhor dizendo, à preparação dos alunos para a vida profissional e para a intervenção cívica e política.
É que hoje, tal como há 30 anos, “sobressaem dois aspectos fundamentais da formação dos economistas em que cabe à Universidade papel relevante: o do conhecimento científico e o do sistema de valores”.
No domínio dos conhecimentos, exige-se, dizia eu em 1982, “uma formação analítica sólida e actualizada”, capaz de “estabelecer as relações adequadas e de tirar as conclusões lógicas”, bem como uma “formação adequada no domínio de outras disciplinas sociais (...), porque a Economia diz respeito ao homem” e às várias dimensões do seu “comportamento social”.
Por outro lado, acrescentava, os economistas devem saber “actuar numa realidade concreta, a portuguesa, com as suas características particulares (...), muitas vezes ignoradas ao nível de abstracção a que os modelos económicos são desenvolvidos”.
Tudo isto continua válido, se não mesmo reforçado, nos dias de hoje. Mas, se há coisa que mudou profundamente com os meios de comunicação e a rapidez da difusão de mensagens, é que o tempo da acção política encurtou de forma excessiva: as políticas que olham o médio e o longo prazo têm pouca aceitação eleitoral e fraco suporte mediático e o que interessa tende a ser, sobretudo, o que é visível no momento.
Isso condiciona fortemente a acção científica dos economistas, chamados a apoiar os decisores políticos com os seus conselhos, fazendo-os correr um risco sério de abandonar a capacidade de olhar à distância, para fornecer soluções que apenas atendem ao contexto imediato."
COMENTÁRIO
Tudo isto invocando a tal lição de sapiência (vejam lá) proferida em Fevereiro de 1982 antecipando-se então, a segunda vinda do Fundo Monetário Internacional a Portugal, no contexto do acordo de ajustamento que acabou por vir a ser assinado em 1983. Lição essa dada sabem por quem?
- Precisamente por quem tinha Exercido o cargo de Ministro das Finanças e do Plano em 1980-81, no Governo do Primeiro-Ministro Francisco Sá Carneiro, e era então Presidente do Conselho Nacional do Plano (1981 a 1984).
Sabia do que falava então e parece que sabe do que fala agora.
Em Fevereiro de 1980, Cavaco Silva, Ministro das Finanças de Sá Carneiro, revalorizou o escudo em 6 por cento, sendo a primeira subida do valor externo do escudo depois da Abrilada. Esta medida dificultou as exportações. As importações subiram assim como os gastos orçamentais. O défice das transacções correntes subiu 5% (do PIB) em 1980 para 11,5% em 1981 e 13,2% em 1982. A dívida externa disparou de 467 para 1199 milhões de contos. A somar a tudo isto, o Prof. Cavaco Silva foi também responsável por um clima de crispação contra a liderança de Francisco Balsemão o que levou ao fim da AD e, nas eleições de Abril de 1983, à vitória do PS.
Claro que e porque o descalabro já era tanto como Cavaco Silva reconhece agora que reconheceu em 1982 o FMI entrou cá de facto. Mas pela Mão de Soares e Ernani Lopes. Consta que como Técnico Cavaco Silva participou nas negociações. Pudera! Como deixara o País sabia ele!!
Mas quanto á visão a longo prazo que ao que parece, obcecados pelos resultados eleitorais, os políticos não têm, estarão então disponíveis os economistas para obviar graças ás sua capacidades técnico cientificas obtidas nas tais universidades.
(Ficaria apenas por definir a que quadrante politico deveriam pertencer os economistas consultados. O mais provável ao do vencedor das eleições. Mas se formos por aí lá se iria o rigor cientifico a favor das opções subjectivas e ideológicas)
Bem esta é demais. É que Cavaco à data já tinha sido político e economista ao mesmo tempo como Ministro das Finanças. O que repetiu entre 1985 e 1995 como Primeiro Ministo. Estão agora a ver a estreiteza de visão a longo prazo e a tendência de apenas atender ao imediato, do Ministro e Primeiro Ministro Cavaco corrigida pela clarividência sapiente e capacidade de olhar à distãncia do Economista e Especialista em Finanças Anibal Cavaco Silva. E no que deu nesse longo prazo a política do betão e cimento armado. A política da destruição da nossa agricultura e pescas, A política da litoralização do País. A política do abandono do nosso mundo Rural. A destruição do nosso aparelho produtivo primário. A política do país de serviços e do turismo e de que tudo o que se necessita se compra nos supermercados adquirido ao exterior, Etc, Etc, Etc.
Mas como eu sou suspeito o melhor é lembrar o discurso do ex-Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, na Cerimónia Comemorativa do 37º Aniversário do 25 de Abril no Palácio de Belém, em 25 de Abril de 2011
"Um das razões por que chegámos à situação em que estamos foi a falta de sustentabilidade e a ausência de uma visão de longo prazo com que muitas vezes se decidiu e escolheu, comprometendo o futuro.
Antes de ser portuguesa, esta crise é uma gravíssima crise mundial e europeia, a maior desde 1929, com uma incidência aguda e particular no nosso país, pois junta às dificuldades gerais as nossas vulnerabilidades próprias. Essa crise mundial é uma crise civilizacional, moral, política, económica e social, que afecta países, grupos sociais e pessoas já antes dela muito vulneráveis. É ainda a crise do modelo económico e social neoliberal, que se recusa a não reconhecer o seu fracasso e continua a querer aproveitar em seu favor os danos que causou. Esta contradição essencial — estarmos a tentar combater os males com os remédios que os causaram — mostra-nos que ainda não foi virada a página. Jorge Sampaio"
Ao que parece SAMPAIO ( e reforçado pelo facto deste discurso estar na página da Presidências ver http://www.presidencia.pt/?idc=22&idi=53125) referiu-se então a marcianos!
FANTÁSTICO MELGA! Seria de rir como o Herman,
Mas o que me dá é vontade de chorar!
E também é por estas que não votei em CAVACO
Lopesdareosa
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