Parafraseando
in JN
"Na noite de amanhã, há festa na Baixa de Viana do Castelo. A população foi convidada a sair à rua. Deve levar champanhe e bolo-rei. E ninguém está equivocado, não é um réveillon fora de tempo. Nem sequer se pretende festejar a tomada de posse do novo presidente da República. O pretexto para a comemoração é outro: a despedida de Aníbal Cavaco Silva.
O homem que esteve presente na vida de muitos portugueses, uma boa parte ainda estudantes até à idade adulta, sai da vida política e parece não deixar saudades. Nem mesmo entre os da sua família partidária. Cavaco Silva atravessou, na política, as últimas quatro décadas de Portugal. E dividiu o país. Abandona Belém sem glória
Eleito sempre por largas maiorias, ficará na História, ao contrário do que os mais críticos tentam adivinhar. Foi primeiro-ministro no auge da chegada dos fundos comunitários a Portugal. E não conseguiu, com o ímpeto reformista que lhe era atribuído, mudar Portugal de forma estrutural.
Fez aquilo que depois criticou nos outros. Construiu, construiu, construiu... e no país nada ficou alicerçado capaz de mudar, de facto, as coisas. Os muitos milhões esfumaram-se, sem ficar raiz, e Portugal ficaria quase na mesma. Como no tempo dos Descobrimentos, "ao cheiro dessa canela", o país se despovoou. Voltaria às velhas rotas da emigração.
Injusto. Sim. Portugal mudou muito. Mas mudou no sentido daquilo que Cavaco e o Governo de Passos Coelho, por si apoiado quase sem disfarce, tanto criticaram. Todos nós, os que se formaram na vida adulta "tutelados" por Cavaco, nos lembramos: foi ele o primeiro-ministro do crédito fácil, foi dele o tempo em que era quase absurdo não comprar, em cada esquina alguém nos oferecia um crédito irrecusável. Foi ele, o primeiro-ministro Cavaco, que mandou abater os nossos barcos e fala agora do oceano como se da terra prometida se tratasse. No seu tempo de chefe do Governo, subsidiava-se a destruição dos olivais, da vinha, a "triste e fatal agricultura" de outros tempos sofria um rude golpe. Os campos ficaram mais abandonados, a desertificação cresceu veloz. Hoje dão palmadinhas nas costas dos jovens agricultores.
O Cavaco presidente foi outro. O homem que nunca se enganava, o homem que detestava enfrentar a contestação das ruas, como se a discordância fosse algo impuro num regime democrático. Aníbal Cavaco Silva despede-se, diz ter feito tudo em prol do interesse nacional. Não devemos duvidar das suas palavras. A nação de Cavaco é, contudo, uma nação antiga. A nação dos pobres, mas sérios.
Na noite de amanhã, há festa em Viana do Castelo - e noutros pontos do país, com certeza."
Bamos agora a:
Tchim-tchim
07.03.2016
Rui Sá
"Tenho que fazer uma confissão: no frigorífico cá de casa repousa uma garrafa de champanhe que irei abrir e saborear depois de amanhã, dia 9. Comemorando a saída, que espero definitiva, da vida política ativa de Cavaco Silva, que, durante 20 anos, ou seja, metade do que dura o nosso regime democrático, ocupou as mais altas responsabilidades e cargos políticos.
E, não tenho dúvidas (embora na vida tenha muitas e frequentemente me engane...) que muitos dos problemas que o país vive e que não conseguiu ultrapassar devem-se às políticas que Cavaco implementou e acarinhou. Mas, para além desta razão racional, há outras de caráter subjetivo que me levam a comemorar a sua saída. Não gosto do homem, do seu estilo, da sua maneira de ser. E não é um preconceito ideológico, até porque há várias pessoas de Direita que muito respeito e por quem tenho admiração. Mas no caso de Cavaco isso não acontece. E, procurando analisar as razões para esta "urticária", descubro um conjunto de factos que se sobrepõem à imediata falta de empatia que a sua imagem me provoca. Vejamos quais são esses factos. Não gosto daqueles que ambicionam o poder acima de tudo, mas que procuram fazer crer que até não o queriam mas que o poder é que lhes caiu no colo, como o caso da mentira mil vezes repetida de que apenas foi ao congresso do PSD na Figueira da Foz para fazer a rodagem do automóvel e saiu de lá, "coitado", como presidente do partido. Não gosto do que Cavaco fez a Fernando Nogueira. Recordar-se-ão que Nogueira, o mais fiel dos ministros de Cavaco, subiu a presidente do PSD substituindo Cavaco, que, depois de um dos seus habituais tabus, se afastou, em 1995, para se candidatar a presidente da República (1996). Pois quando Nogueira pediu para colocar uma foto de Cavaco nos cartazes eleitorais do PSD, este negou porque queria "apagar" o seu passado como líder do PSD. Quem faz coisas destas a amigos... Não gosto que Cavaco tenha levado para o poder uma trupe de personagens que, hoje, se distinguem nas páginas de polícia, como Dias Loureiro, Duarte Lima e Oliveira e Costa. Não gosto do facto de Cavaco ter implementado uma cultura da bajulação ao "chefe", no poder e no Estado, que até fez com que, na Via do Infante, a importantíssima terra de Boliqueime (que ninguém conhecia antes de se saber ser a sua terra natal - numa estória para enfatizar a "humildade" das suas origens...) passasse a ser referida numa saída da autoestrada como se tivesse a mesma importância que Loulé ou Albufeira... Não gosto que Cavaco, no seu afã de seguir o guião que o procurava transformar no "poço de virtudes e de vida de provação", tenha tido o mau gosto de, em plena crise económica, vir lamentar-se de que a sua "parca" reforma mal lhe dava para viver... Não gosto que Cavaco, de saída da Presidência, tenha condecorado tanta gente que tão pouco ou tão mal fez pelo país e onde pontua o inefável Sousa Lara que foi a sua cara e mão na vergonhosa exclusão do livro de Saramago "O Evangelho segundo Jesus Cristo" da candidatura ao Prémio Literário Europeu de 1992. Mais razões poderia apontar. E é por elas que saber-me-á pela vida o champanhe que beberei no dia 9 de março, com a certeza de que há dias felizes na vida do comum mortal..." Eu estive lá! Na Praça da Rainha a dizer adeus ao rei! Se não foi com CAVA, foi ao CAVA daqui para fora! Tone do Moleiro Novo |
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