sexta-feira, 4 de março de 2016

DESMONTE DE JOÃO GONÇALVES (Jurista)

Ver em http://www.jn.pt/opiniao/default.aspx?content_id=5052479

 
Aníbal Cavaco Silva - 1
 
Por João Gonçalves em JN 29.02.2016


A semana e meia de deixar o Palácio de Belém, e numa altura em que "parece bem" ignorá-lo ou diminui-lo, entendo que devo a mim mesmo umas palavras sobre Aníbal Cavaco Silva. Quando foi ministro das Finanças e do Plano de Sá Carneiro, as suas funções não me entusiasmavam especialmente. Aos 20 anos interessava-me a política pura e dura e a ruptura democrática introduzida pela AD de 1979 que os Reformadores, onde eu estava, apoiaram. Cavaco só entrou na minha paisagem quando tomou conta do PSD na Primavera de 1985. Não ignorava as suas desconfianças públicas e partidárias relativamente a Balsemão que, naquele ano, se sublimaram sobretudo através da "corrente" lisboeta Nova Esperança (de Marcelo, S. Lopes, D. Barroso, J. M. Júdice e, imagine-se, Helena Roseta) que desaguou no célebre congresso da Figueira da Foz. O PSD dessa altura seguia Mário Soares no Bloco Central e Cavaco vinha para desfazer esse "consenso" mole e impor uma agenda própria nas presidenciais. Ganhou a primeira parte e perdeu a segunda, o que, paradoxalmente, ajudou a criar o lastro para a sua primeira maioria absoluta. Depois da Figueira, Cavaco emergiu com uma autoridade indisputável sobre o partido. E o poder democrático foi determinante para afirmar por dez anos a sua autoridade no país a que sempre se dirigiu sem intermediários e em nome, cito-o, de uma "imagem de competência, rigor e determinação". Cavaco passou a definir os "consensos": não eram os "consensos" que o definiam. As "elites" dividiram-se sempre entre as que fingiam tolerá-lo e as que lhe devotavam uma espécie de temor reverencial. A "burguesia" democrática, educada no republicanismo torpe da 1.ª República e no "antifascismo" de salão ou de rua, nunca o suportou. Aos "próximos" nunca permitiu uma proximidade que ultrapassasse a sua estrita necessidade deles. Aliás, quando, em Janeiro de 1995, quebrou um famoso "tabu" estava farto deles. Cavaco aprendera a ser um dirigente político capaz que transformara a timidez natural em força e intimidação. Em suma, mandava e o país apreciava que ele mandasse. Até nas presidenciais em que Sampaio ficou presidente, Cavaco obteve um resultado que, fosse outra a eleição, lhe garantiria uma terceira maioria absoluta. Esperou então dez anos, paciente e metodicamente, pela próxima. Qual foi o "segredo"? Parafraseando V. Pulido Valente, Cavaco sempre soube o que quis enquanto os seus inimigos e adversários apenas sabiam que não queriam Cavaco. Nunca chegou.
* JURISTA
O autor escreve segundo a antiga ortografia
FIM DE CITAÇÂO

"Não há heróis sem audiência" 
Cito agora não sei quem que disse isto antes de mim!

Vamos por partes:

"Qual foi o "segredo"? Parafraseando V. Pulido Valente, Cavaco sempre soube o que quis enquanto os seus inimigos e adversários apenas sabiam que não queriam Cavaco."

 - Será que Jorge Sampaio nunca soube o que quis quando em confronto com Cavaco lhe ganhou a corrida à Presidência da República?

Ora bolas para o parafraseante e para o parafraseado!

"Esperou então dez anos, paciente e metodicamente, pela próxima."

Que remédio! Foi de tal ordem que a meio da caminhada nem se atreveu a ir a votos. Mandou o betoneira do Amaral assistir à missa de corpo presente!

"Em suma, mandava e o país apreciava que ele mandasse. Até nas presidenciais em que Sampaio ficou presidente, Cavaco obteve um resultado que, fosse outra a eleição, lhe garantiria uma terceira maioria absoluta."

E nessa tal outra eleição em que lugar ficaria Sampaio? - Se calhar em segundo!!!

 Que pena que tenha abandonado Fernando Nogueira a bater-se com Guterres!
  Que lástima! Trocou o certo pelo duvidoso!
- Ou terá sido que o próprio Cavaco duvidava já dessa tal hipotética terceira maioria absoluta?

"Cavaco aprendera a ser um dirigente político capaz que transformara a timidez natural em força e intimidação."

- Eu sempre pressenti que ali haveria um problema de criança por resolver!
Que lástima não tivesse intimidado os eleitores que votaram em Sampaio!

"Aos "próximos" nunca permitiu uma proximidade que ultrapassasse a sua estrita necessidade deles. Aliás, quando, em Janeiro de 1995, quebrou um famoso "tabu" estava farto deles."

Da primeira parte deduz-se que aprendeu com Sá Carneiro no que ao próprio Cavaco se refere.
Que lástima o que aconteceu a Sá Carneiro. Não fora e logo se veria quem estaria farto de quem!

"As "elites" dividiram-se sempre entre as que fingiam tolerá-lo e as que lhe devotavam uma espécie de temor reverencial. A "burguesia" democrática, educada no republicanismo torpe da 1.ª República e no "antifascismo" de salão ou de rua, nunca o suportou."

Ai sím???

- Então ganhava com os votos de quem???

- Eram só os VOTOS dos cavaquistões abandonados por esse país fora por Cavaco, na sua interioridade, ou com os de mais ALGUNS??

"Quando foi ministro das Finanças e do Plano de Sá Carneiro, as suas funções não me entusiasmavam especialmente."

 Daí a exaltação de agora!

Não reparou, João Gonçalves, então que:

"Subiram os gastos orçamentais, valorizou-se o escudo, dificultou-se a vida aos exportadores, subiram as importações. Em resultado, o défice das transacções correntes subiu de cinco por cento do PIB em 1980 para 11,5 por cento em 1981 e 13,2 em 1982. A dívida externa aumentou de 467 milhões de contos em 1980 para 1199 milhões em 1982. Os mercados financeiros aproximavam-se do país."   Ver João Ramos de Almeida, no PUBLICO em 07 de Abril de 2011

 "Não ignorava as suas desconfianças públicas e partidárias relativamente a Balsemão que, naquele ano, se sublimaram sobretudo através da "corrente" lisboeta Nova Esperança (de Marcelo, S. Lopes, D. Barroso, J. M. Júdice e, imagine-se, Helena Roseta) que desaguou no célebre congresso da Figueira da Foz."
 
O que para aqui vai!
 
- Terá sido por essa desconfiança que não fez parte do governo da AD pós Sá Carneiro?
- Não o quiseram lá ou ele recusou-se?
- Não o teriam convidado?
- Ou ele já saberia o estado em que deixara o Estado?
 
"O PSD dessa altura seguia Mário Soares no Bloco Central e Cavaco vinha para desfazer esse "consenso" mole e impor uma agenda própria nas presidenciais. Ganhou a primeira parte e perdeu a segunda, o que, paradoxalmente, ajudou a criar o lastro para a sua primeira maioria absoluta."
 
O tal "consenso" mole teve a dureza de ter que pedir em 1993/1994 a intervenção do FMI para socorrer o estado em que o Estado se encontrava depois do governo da AD pós Sá Carneiro.
 
- Por que é que, Então,  Cavaco se recusou a fazer parte da delegação negociadora com o FMI?
 
- Mesmo sendo director do Gabinete de Estudos do Banco de Portugal cargo que lhe permitia uma  observação privilegiado das actividades económicas e financeiras de Portugal.???
 
-  Mesmo tendo já Cavaco liderado anteriormente três representações junto do FMI.?
 
"Depois da Figueira, Cavaco emergiu com uma autoridade indisputável sobre o partido."
 
- Emergiu, emergiu!
 
Fosse Sá Carneiro vivo, imergiria!
 
E por aí fóra!  ( para não se confundir com fôra)
 
Já que estamos em marés de citações e em homenagem a Humberto Eco, acabarei concordando com este.
 
"A sabedoria não está em destruir ídolos, está em jamais criar ídolos."
 
Tone do Moleiro Novo
( Que mostra demasiados conhecimentos para o resultado do cruzamento de uma lavradeira com um policia! O que ás vezes é uma chatice!)

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